sexta-feira, 8 de maio de 2009

Cruz de Maio, Cruz de Cristo!


Quem não bebe na fonte da sua memória, corre o risco de extraviar-se no labirinto do esquecimento. Se andamos órfãos desta, estamos condenados a começar a nossa marcha de novo a cada dia, como uma pena eterna, como os que eram adversários dos desígnios divinos na Grécia. Por isso quero abrir estas linhas neste Domingo da Cruz de Maio, com umas palavras de José Martí:

“Terminam o corredor e metem o pé na merda, penduram as cordas, erguem-lhes as cabeças, enfiam-lhes as quatro mortalhas.

Submissão no rosto de Spies; no de Fisher, firmeza; no de Parsons, orgulho radiante; a Engel, que faz rir com um chiste o seu séquito, afundou-se a cabeça nas costas”.

E continua Martí:

“E ressoa a voz de Spies, enquanto cobrem as cabeças dos seus quatro companheiros, com um tom que entra nas carnes daqueles que o ouvem: ‘a voz que vais sufocar será mais poderosa no futuro do que todas as palavras que possam agora ser ditas’.”

Assim descreveu o apóstolo em Janeiro de 1888 para o diário argentino La Nación, a execução dos quatro mártires de Chicago naquele lutuoso 11 de Novembro de 1887: mártires porque foram fiéis, ao ponto de darem a vida, à justa indignação que os levou a rebelarem-se no 1º de Maio de 1886.

Dia trágico aquele 11 de Novembro, ferida difícil de sarar, símbolo da memória histórica dos trabalhadores e das suas lutas: consequência directa da multiplicação dos desmandos e atropelos a partir da Revolução Industrial, em funesto matrimónio com o capital, entronizou-se no poder. Mas a voz de Spies continua a entrar-nos nas carnes: é a voz da dignidade de quem acreditou e continua a acreditar num evangelho de justiça e de igualdade traduzido em vida: de todos aqueles que apostaram e continuam a apostar na redenção terrena: de todos aqueles leais à vida e adversários da morte.

Para nós, comungando com os mais elevados interesses da humanidade, o Dia Internacional do Trabalhador tem não só o sentido da inexorável homenagem à memória da prolongada luta dos povos: é a reafirmação do compromisso de prosseguir no combate para ver o sol do socialismo encarnado entre nós.

Quero recordar as palavras de uma mulher do nosso povo, na concentração de trabalhadores socialistas do último 1º de Maio: “Hoje é o dia do José povinho, da Maria lavadeira. Hoje é o dia da sua dignificação na Venezuela”. Pelo José povinho e pela Maria lavadeira, deram a sua vida os mártires de Chicago: pelo José povinho e pela Maria lavadeira, pela sua dignificação total, é essa a nossa luta.

E como para buscar alento num dos mártires de Chicago, refiro-me a Albert Spies, trago a esta página umas palavras luminosas, ditas em sua defesa e em defesa dos seus companheiros, perante o tribunal que o condenaria à morte: “Mas se julgam que enforcando-nos podem conter o movimento trabalhista, esse movimento constante no qual se agitam milhões de homens que vivem na miséria, os escravos do salário; se esperam e acreditam ser essa a salvação: enforquem-nos…! Aqui tentam apagar um vulcão, e além e acolá e debaixo e ao lado e em todas as partes fermenta a Revolução. É um fogo subterrâneo que todos minam”.

Cruzando os tempos daquela Chicago até à Venezuela dos nossos dias, temos que dizer que a nossa Revolução Bolivariana também passa por esse mesmo fogo subterrâneo que alentou os trabalhadores e operários daquela gloriosa jornada.

Dali o nosso compromisso com os nossos homens e com as nossas mulheres que em cada jornada saem aos campos e às fábricas construindo a Pátria. A vós o meu reconhecimento já que sem o vosso incansável esforço a transformação radical e revolucionária a que nos propomos seria impossível. A vós que são força viva, força crítica e força soberana da Venezuela socialista que estamos a construir, é feita pois a minha homenagem.

A crise económica mundial, que é uma crise estrutural do capitalismo, não deterá o avanço para o socialismo na Venezuela.

Devemos ser um Governo realmente e verdadeiramente trabalhista, um Governo de todos os trabalhadores e trabalhadoras, nas palavras e nos actos: não podem haver práticas institucionais, governamentais, que contradigam a nossa definição trabalhista.

Antes de mais: não pode haver relação de tutela no que diga respeito aos trabalhadores dentro da construção do nosso modelo socialista. Não é nem ao Estado, nem ao Governo e nem ao PSUV que compete organizar e dirigir os trabalhadores: toca aos próprios trabalhadores assumir essa responsabilidade histórica, classicista, que lhes pertence.

León Trotsky para definir o Estado despótico que se consolidou com o estalinismo, chamava-lhe Estado trabalhista degenerado. Pelo contrário, um verdadeiro Estado trabalhista, dos trabalhadores e das trabalhadoras, deve ser capaz não só de gerar novas relações de produção e novas categorias e condições de tempo e trabalho, deve também impulsionar o processo de transferência de poder que estenda o controlo de todos os operários, trabalhadores, sobre todo o processo de produção. É certo, é um processo que demora tempo mas a sua dinâmica tem que se iniciar já.

Temos que fundar e consolidar uma nova consciência laboral que, segundo uma grande lutadora e filósofa francesa chamada Simone Weil, deveria ser marcada não pelos grosseiros dividendos do capital nem pelos mesquinhos interesses personalistas, e sim na e pela proporção cada vez maior de liberdade. E eu acrescentaria: da liberdade autêntica, isto é, a que se conquista na batalha quotidiana contra a exclusão e a desigualdade.

Trabalhadores e trabalhadoras da minha Pátria!: saibam que têm em mim um aliado incansável. Enquanto que no planeta surgem 190 milhões de desempregados vaticinados pelo OMT em 2008, aqui estamos numa luta sem quartel pela, citando Bolívar, suprema felicidade social.

Não haverá Revolução sem classe trabalhadora!

Não podemos aprofundar a Revolução sem a classe trabalhadora!

Não haverá socialismo sem a participação e o protagonismo da classe trabalhadora!

Um grande objectivo histórico continua pendente: converter a Venezuela num país de leitoras e de leitores; de leitoras e de leitores activos e críticos e com sentido de pertença. E a isso dá resposta o Plano Revolucionário de Leitura que começou a estabelecer a sua dinâmica criativa e libertadora por todo o território da Pátria, logo após o seu lançamento no passado 25 de Abril.

Trata-se e ler para transformar-se: para que cada homem e mulher, através deste novo processo de formação para a leitura, se converta em sujeito de transformação da realidade nacional rumo ao socialismo.

Há que ler e ler, não só os livros, mas a realidade circundante. É inegável a poderosa incidência da leitura na formação de uma nova subjectividade: a que necessitamos para construir verdadeiramente o nosso socialismo. Recordemos que na batalha mediática de cada dia, cada um de nós é um meio de comunicação e difusão. Neste sentido, o Plano Revolucionário de Leitura vai optimizar a nossa estratégia comunicacional porque irá converte-la num tema real e verdadeiramente colectivo.

O Plano Revolucionário de Leitura foi pensado e concebido para aqueles que padecem secularmente da mais atroz exclusão cultural e cognitiva: aquelas vítimas da violência da ignorância. O processo que os vai converter em leitoras e em leitoras, que o são em potencial, está em funções para elevar a sua capacidade como construtores e construtoras de uma nova sociedade e um novo mundo de vida.

Ser cultos para ser livres, afirmamo-lo com Martí. A cultura é a base fundamental da nossa liberdade. A boa leitura é o maravilhoso caminho para a libertação definitiva.

Cruz de Maio, Cruz de Cristo, Cruz de todos, Cruz de todas!

Contigo vamos, Cruz bendita dos oprimidos.

E vamos cantando:

Pátria, socialismo ou morte!

Estamos vencendo!

Venceremos!

Hugo Chávez Frias
03 de Maio de 2009


Cavalaria!!

Continua a ofensiva revolucionária com crescente fervor. Em San Cristóbal e em Valência pudemos comprová-lo no dia 27 do corrente, em diversos eventos com os comandos regionais da campanha, com os comandos dos centros eleitorais, os chefes e as chefas de patrulhas e os porta-vozes dos comités pelo SIM, tanto das missões socialistas como das frentes e dos movimentos sociais.

Foram encontros verdadeiramente apaixonantes e de um grande teor pedagógico. Além disso serviram-me para constatar os avanços que estamos a obter nos primeiros dias desta 4ª fase em que a nossa campanha entrou, com múltiplas manobras de natureza divergente, orientada para diversos objectivos tácticos e estratégicos.

Nestas linhas de hoje, pouco antes de partir para Belém do Pará, no Norte do Brasil, para onde nos convidaram, tanto o companheiro presidente Lula da Silva como inumeráveis líderes dos mais diversos movimentos sociais do continente, para participar na edição de 2009 do Fórum Social Mundial, quis deixar algum material que pretende contribuir para o objectivo da máxima eficiência nesta operação ofensiva, que continua a evoluir para a grande batalha pelo SIM no referendo do próximo dia 15 de Fevereiro, no qual somos chamados a obter uma vitória memorável.

Em primeiro lugar, está claro que para concretizar o objectivo estratégico da grande vitória do SIM, precisamos materializar o voto popular, mobilizar as massas do povo e as mesas eleitorais no 15 de Fevereiro, procurando o nosso máximo feito histórico.

Agora bem, como consegui-lo? Trata-se então de precisar com exactidão os detalhes das operações tácticas, sendo fundamental neste ponto uma correcta organização para a batalha.

E é neste ponto que quero focar a lupa. Por isso, lanço as seguintes instruções operacionais:

1. Compatriotas, em cada centro eleitoral deve funcionar um comando, com o seu respectivo chefe ou chefa e uma estrutura mínima de comando, comunicações e controlo. E neste comando de centro eleitoral devem inscrever-se todas as unidades operativas que existam no sector.

2. A saber, devem funcionar sob o seu comando, uma patrulha logística e tantas patrulhas operativas quantas mesas existam no respectivo centro eleitoral. Cada uma destas patrulhas deve ter o seu chefe ou chefa, ou seja, um líder, cuja principal tarefa é organizar, treinar, coesionar, motivar e guiar a sua unidade no cumprimento da missão.

3. Contudo devo recordar-lhes agora mesmo o seguinte: a experiência demonstrou-nos que as patrulhas não são suficientes para a colossal tarefa de impulsionar a votação massiva do povo: os trabalhadores, os estudantes, os profissionais, os camponeses, os empresários, os pescadores, os soldados, os indígenas, homens e mulheres, milhões e milhões deles!!

4. Nesta campanha aconteceu, do nosso ponto de vista, algo verdadeiramente transcendente. Que as Missões e os Movimentos Sociais ultrapassaram as barreiras da sua mera dinâmica social interna para saírem agora e ocuparem o seu posto de batalha no mapa político: surgiram por todos os lados e com a força de um furacão, mais de cem mil comités pelo Sim!!

E a sua irrupção alegre, estrondosa e arrojada parece-me assemelhar-se àquelas memoráveis cargas da cavalaria patriótica sobre os flancos inimigos, que acabaram por quebrar as linhas de resistência e por provocar o colapso e a derrota realista no campo de batalha.

Ou as cargas de Maisanta, o último cavaleiro, em cuja lenda se inspirou Andrés Eloy Blanco, para escrever aqueles versos que são, na verdade, um galopar de centauros:

"Con un rumor de joropo
Viene llegando la carga,
Tendido en el paraulato
Un jinete la comanda,
Y cuando llega el enemigo
En los estribos se alza,
Tiene la melena rubia
Entre baya y alazana
Y un grito que es un machete
Con filo, punta y tarama
Y es Pedro Pérez Delgado
Que va gritando:
¡¡Maisanta!!

Ora bem, é muito importante que nem um só dos nossos comités esteja desconectado da maquinaria. Portanto, cada comité deve batalhar com muita eficiência em duas frentes. Uma, onde decorram as actividades próprias e naturais da Missão a que pertencem; digamos por exemplo, os missionários da Missão Ribas e Sucre, nos seus meios educativos, escolas, liceus e aldeias universitárias…

E o outro, actuando como unidade de apoio, como reforço das patrulhas, dos centros eleitorais.

Resumindo, cada patrulheiro, cada missionário, deve ter a sua lista de eleitores e eleitoras a serem localizados, contactados e trabalhados, para que se convertam em votantes pelo SIM no 15 de Fevereiro.

Isto é vital, camaradas!

Maisanta, cavalaria à carga, que são bastantes…!!!

SIM, pela Pátria!!

Hugo Chávez Frias
29 de Janeiro de 2009

quarta-feira, 22 de abril de 2009

De Teerão

Escrevo em Teerão, esta grande e milenária cidade, cujos ruídos entram pela minha janela enquanto amanhece. Hoje é Sábado, 4 de Abril, e quando me levantava às 6:00 da manhã em Caracas aqui eram 9:00 da noite do dia 3… todavia! Que coisas estas as do espaço e do tempo com as suas leis e a sua relatividade!

Ligo o televisor, conectado directamente ao satélite, e ali está Vanessa com o seu programa Contra Golpe, desde o local recuperado do Porto de Maracaibo. O vento bate forte vindo do lago e a Pátria chega-me de repente através do ecrã. Ouço a voz do povo, dos conselhos comunais ali presentes. Ouço a voz da Força Armada na pessoa do coronel presidente do porto. Ouço pois, a voz da Revolução que avança.

E daqui te digo, homem, mulher, compatriota que m lê: não desfaleçamos na Ofensiva Revolucionária em toda a frente de Batalha!

Pudemos comunicar-nos via telefónica com Vanessa. E logo com o Dossier de Walter Martínez. Falamos várias horas, enquanto continuava a subir o sol além das montanhas nevadas de Teerão, aqui no coração do Médio Oriente.

Entretanto, todo o mundo tem estado pendente da Reunião do G-20 em Londres, a capital do velho império britânico. Começou com pompa e circunstância e podemos dizer que terminou sem dor nem glória, apesar do optimismo expressado nas declarações de alguns dos seus protagonistas.

Já o havia dito em Caracas, em Doha, aqui em Teerão, recordando o grande caudilho José Gervásio Artigas: “Não devemos esperar nada de ninguém senão de nós mesmos”. E assim é, em verdade.

A quem senão aos que não querem ver a realidade lhes pode ocorrer colocar nas mãos de um incendiário a tarefa de apagar o incêndio?

Mas foi exactamente isso que decidiram: dar de novo gigantescas quantidades de dólares ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Mundial… Valha-me Deus!... Outorgar mais poderes à Organização Mundial do Comércio e ameaçar inclusivamente aqueles países do terceiro mundo que caiam no “pecado do proteccionismo”. Salva-se quem puder!

Sinceramente não querem ou não podem escapar à perversa lógica neoliberal e pretendem agarrar-se aos princípios do selvagem modelo capitalista. Assim são os fundamentalistas!

Nós, por outro lado, continuamos a construir o nosso caminho e transitando por este, empregando os nossos modestos esforços na confirmação do mundo multipolar, multicêntrico, no qual se consiga trazer à realidade aquele conceito bolivariano do “equilíbrio do Universo”.

Hoje, Sábado, conclui-se aqui em Teerão o Encontro do G-2, Irão e Venezuela, com a assinatura de um conjunto de novos acordos que constituem a linha de partida do novo mapa 2010-2020, sobre o qual navegaremos estas duas Repúblicas, os seus povos irmãos e as suas revoluções.

Ontem inauguramos em Teerão a sede do novo Banco Binacional Irano-Venezuelano (BBIV), para cujo nascimento trabalhamos intensamente durante mais de dois anos e que doravante se constitui num novo instrumento precisamente para a libertação da ditadura do dólar.

Esta criação de um Banco Binacional entre a nação persa e a nossa recorda-nos aquelas palavras que Martin Luther King pronunciava em 1963: “Recusamo-nos a acreditar que o banco da justiça esteja falido”. Enquanto que em todo o mundo, em especial nos grandes centros financeiros, continuam a falir e a cair os grandes bancos, no nosso Sul, justiça seja feita, nascem novas instituições financeiras ao abrigo se um novo conceito que dista muito do capitalismo em queda livre. Com o Irão começamos também a projectar a criação de uma empresa Grande Nacional de medicamentos que contribua para romper com as grandes multinacionais farmacêuticas da morte. O fortalecimento de outros projectos – agro-pecuários, alimentares, mineiros, energéticos – foram parte importante da nossa agenda dentro do propósito estratégico de converter a nossa nação numa potência soberana e independente, na medida do possível.

O Encontro da ASPA em Doha, e esta dos G-2, Irão e Venezuela, são a prova palpável de que outro mundo já começa a ser possível, ante o triste espectáculo observado também com atenção da nossa parte, nas antípodas, do encontro dos G-20.

Esta noite viajaremos para o Japão. Será uma grande viagem. E logo iremos a Pequim, essa gigantesca cidade capital da nova superpotência mundial do século XXI.

Agora quase não tenho nem tempo para escrever. Portanto, estas linhas de hoje são mais curtas que o normal. Desde modo não se queixaram nem Jesse nem Eleazar.

Quando estiverem a ler estas minhas palavras, estaremos já no avião da Cubana que Fidel nos emprestou, rumo ao Japão. E já será Domingo de Ramos. Peço aqui desde estes mundos de Deus, que Cristo retorne de verdade, os seus valores, a sua paixão, a sua esperança. Peço que ressuscite cada dia nos corações de todas e de todos. E que se torne uma bela realidade o Reino que vem anunciar-nos: o socialismo!

ATÉ À VITÓRIA SEMPRE

VENCEREMOS

Hugo Rafael Chávez Frias
05 de Abril de 2009


segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ganhou o Sim

Ganhou o Sim na Bolívia. Ou seja, o povo boliviano aprovou a nova Constituição política do Estado. Tive a sorte de poder conversar com o companheiro Presidente Evo Morales, na mesma noite da vitória.

Evo sai novamente vitorioso e na verdade merece-o. Tem sido e é um grande líder, resistiu a agressões e a conspirações de todo o tipo, impulsionadas pelo governo imperialista de Bush, utilizando como instrumentos uma burguesia apátrida e uma direita fascista.

Impôs-se o voto do povo humilde, dos povos indígenas, dos excluídos durante 500 anos.

Sem embargo, é necessário dizer que esta vitória transcende a Bolívia, inscreve-se no processo histórico que já o presidente equatoriano, o companheiro Rafael Correa, qualificou de mudança de época.

Da minha óptica, este processo carrega na sua medula uma profunda revolução social, que se expressa poderosamente no âmbito dos campos político e jurídico.

Assim vem nascendo na América do Sul uma nova doutrina constitucional, fundamentada no poder constituinte originário dos nossos povos.

Na Venezuela, como o sabemos, o povo, uma vez activado o poder constituinte, aprovou a nossa avançadíssima Constituição Bolivariana, no 15 de Dezembro de 1999, há quase dez anos, iniciando-se com esse acto, não só a refundação da República, mas também o inicio da marcha do Projecto Nacional Simón Bolívar e a transição para o socialismo.

Hoje, depois de tantos acontecimentos de toda a ordem, que marcaram estes primeiros dez anos de revolução, impõe-se assegurar a continuidade do processo democrático bolivariano, projectando-o com mais força para a segunda e a terceira décadas deste século que começou e evitando a todo o custo qualquer risco de regresso ao passado, o qual seria verdadeiramente catastrófico para a Pátria.

Com base nisto, leitores e leitoras, compatriotas todos, a proposta de Emenda Constitucional, cujo único propósito é dar mais poder ao povo, na hora de eleger e remover governos.

Não há a menor dúvida de que a ofensiva das nossas forças adquiriu um ritmo cada vez mais acelerado, preciso e extenso por todo o país.

Quero felicitá-los e ao mesmo tempo acalente-los a redobrar todos os nossos esforços, pois a batalha não é nada fácil.

Cuidado com o triunfalismo! Que ninguém baixe a guarda nem por um só segundo! Começou para nós a Fase dos Desdobramento. E quero insistir no objectivo fundamental desta Quarta Fase: assegurar a materialização, a concretização do voto!! Causar i mínimo possível de abstenção nas nossas fileiras é vital para a vitória, que deve ser grande! Camaradas: sempre pensamos que íamos ganhar e isso é um sinal positivo daquilo que Bolívar baptizaria de “a vontade de vencer”. Mas também há que recordar que nem sempre temos vencido. Já perdemos o referendo de 2007 e perdemo-lo por “omissão”. Cerca de três milhões dos nossos eleitores, simplesmente não acudiram ao chamado.

Agora que ninguém falte! E esse é um dos grandes reptos que agora mesmo têm as nossas vanguardas, os nossos aparelhos, os nossos movimentos.

Para o concretizar devemos empregar com maior claridade, com muita pedagogia, por todos os meios possíveis, com precisão e constância, as campanhas informativas; diria Bolívar: “a poderosa artilharia do pensamento, das ideias”.

Por exemplo, há gente que todavia pode estar confusa acerca dos impactos da emenda, sobretudo motivada pela grande campanha de desinformação e de guerra psicológica lançada pelos comandos do Pacto de Porto Rico.

Aclaremos bem: não se trata de eleger no dia 15 de Fevereiro a um “Chaves (nem ninguém) vitalício”, como continuam a afirmar os porta-vozes da oposição. Vejam bem todos, vejam bem todas: trata-se somente de aprovar a possibilidade de que nas próximas eleições, aqueles que actualmente ocupam os postos de presidentes, governadores, presidentes de câmara ou deputados, possamos concorrer como candidatas ou candidatos.

Logo, sendo assim, vós ireis votar para eleger, se acordo com as vossas preferências.

Como diz esse lugar comum: Assim de caras!! Vamos pois, patrulhas e comités pelo sim, redobrar a ofensiva, com mística, com alegria, com paixão pátria…

Como aquele grito de batalha em Ayacucho, esse gesto libertador comandado pelo Marechal da América, António José de Sucre: Avante, a passo de vencedores!

Hugo Chávez Frias
27 de Janeiro de 2009

sábado, 18 de abril de 2009

A Quarta Fase: “O Desdobramento”

“O mundo gira…” diz uma velha canção dos anos 60. E realmente gira.

“Deixem o vento soprar…” E realmente sopra.

Tomou posse Barack Obama, entre grandes expectativas de um mundo que diz “já basta”, ante tantas agressões de um Império em decadência. Afirmou que onde “os líderes que querem criar conflitos estejam dispostas a abrir o punho”, então “vamos estender-lhes a mão”.

Pois bem, aqui, onde milhões de seres humanos, no Sul do planeta, temos sofrido há tanto tempo os murros do Império norte-americano, estou seguro de que faço eco da voz dos povos atropelados, quando afirmo que quem deve realmente abrir os seus punhos, é precisamente o governo dos Estados Unidos. De todo o mundo chegariam então mãos estendidas, repletas de fraternidade. Entre elas, sem dúvida, a deste soldado revolucionário e as de milhões de venezuelanas e venezuelanos que, embora todavia Obama não o saiba, aqui estamos a construir uma democracia profunda: o Socialismo Democrático!.

Entretanto, “deixemos o vento soprar”, e digamos como São Tomás: “ver para crer”. E como o nosso amigo e grande escritor uruguaio Eduardo Galeano: “oxalá”.

Fidel, da sua trincheira de ideias, essa que a vida lhe reservou para continuar afectando as batalhas do século XXI, seguindo aquele delineamento estratégico de Simón Bolívar, quando afirmou em Angostura que “a imprensa é a artilharia do pensamento”, já o adiantou nos seus escritos de há apenas algumas horas:

“Sem embargo, apesar de ter ultrapassado todas as provas, Obama ainda não passou pela principal de todas. Que fará quando o imenso poder que tomou nas suas mãos seja absolutamente inútil para superar as insolúveis contradições antagónicas do sistema?”

Já Lula também deu a sua opinião há dias, desde a Planície Maracaibo, lá onde com o apoio brasileiro, estamos a construir um pólo socialista de desenvolvimento: “Chávez, temos que falar com Obama antes que fique preso no aparelho”.

Entretanto, entre o turbilhão de acontecimentos mundiais, aqui na Pátria de Bolívar continua, cada dia mais intensa, esta batalha política pela Emenda Constitucional. Repito-o: aqui, os patriotas; além, os colonialistas.

Nas minhas permanentes viagens pelo país, de Barcelona até Cabinas, onde juramentei dezenas de milhar de comités pelo Sim, pertencentes à Frente das Missões Socialistas, até essas ruas, veredas e blocos da paróquia heróica que é a 23 de Janeiro, notei o crescente entusiasmo do povo venezuelano, acompanhado de um verdadeiro frenesim, transbordado de Paixão Pátria.

Necessário é agora redobrar a ofensiva geral em toda a frente e por todas as partes. Hoje Domingo 25 de Janeiro, inicia a 4ª Fase da nossa campanha: O Desdobramento.

Apelo a todo o povo, aos partidos da Aliança, às Frentes Sociais, às Patrulhas Socialistas, aos Comités pelo Sim, a desdobrarem toda a iniciativa, criatividade, alegria, organização, maquinaria e mobilização, hora após hora, dia após dia, casa por casa, rua por rua, bairro por bairro, cidade por cidade, numa gigantesca operação ofensiva, inteligente, apaixonada e racional!!

Necessário é pulverizar a poderosa campanha de desinformação que a contra-revolução continua a lançar contra o povo, baseada na manipulação e no engano permanentes, num sem-fim de contos mediáticos de laboratório, como esse monumental absurdo e de idiotia que é a “reeleição perpétua”.

Cada vez que escuto um pequenoyanqui a dizer que a Emenda é “reeleição perpétua”, recordo Shakespeare em Macbeth: “…uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, e sem qualquer significado”.

É assim: “reeleição perpétua” não significa nada. Sinceramente, a reeleição tem término, ou não é eleição. Vejamos: o acto de reeleger significa obrigatoriamente a convocatória definida como eleições; a definição de um período para a votação popular e um período de mandato exactamente definido; a Constituição define os lapsos, de quatro a seis anos, para todos os cargos de eleição popular…

Não existe então, nenhuma coisa que se pareça com o que os pequenoyanquis chamam de “reeleição perpétua”!!

Reeleger é voltar a eleger. Quem aspire a continuar num cargo de eleição popular tem que submeter-se ao veredicto do povo. Pode alguém perpetuar-se no poder se os eleitores não o elegerem? Por que não pode ser o povo a decidir eleger e mudar governos? Porque teme a oposição, como se fosse o diabo, responder a perguntas tão simples? Qual é a razão do seu temor?

Eu sei porquê. Temem o povo, que despertou como um grande Lázaro colectivo!!.

Proponho-te, compatriota, homem ou mulher, jovem da minha Pátria, que entre tu e eu, entre todos nós, votando Sim no próximo 15 de Fevereiro, logremos perpetuar no poder o povo venezuelano, façamos vitalício o Projecto Nacional Simón Bolívar para obter a plena Independência Nacional, coloquemos num trono eterno esse binómio maravilhoso, só possível na futura Sociedade Socialista: a Igualdade e a Liberdade!!

Eu, o soldado Chávez, o teu amigo Chávez, acredito em ti, e digo com o Pai Bolívar: “acredito mais nas resoluções do povo que nos conselhos dos sábios”.

E digo contigo: SIM!!

Hugo Rafael Chávez Frias
25 de Janeiro de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

As linhas de Chávez


As linhas mais fortes que na minha vida de batedor percorri, foram sempre para o lado direito.

Agora, no campo da política e da revolução, este percurso que hoje começa, irá para todos os lados com a mesma força.

Só que agora partem com a força das ideias, da convicção, da paixão pátria.

Sou, em essência, um soldado. E como tal, fui forjado na escola do compromisso e da obediência ao legítimo poder que orienta o esforço colectivo, na a concretização dos objectivos tácticos e dos propósitos estratégicos.

As circunstâncias e as condições que marcaram a minha vida, converteram-me afortunadamente num soldado revolucionário. Com base nisto, desde então, fui assumindo como legítimo e superior, o poder soberano do povo venezuelano, ao qual agora estou absolutamente subordinado. E estarei pelo resto dos meus dias.

Digo isto hoje, rodeado pelos acontecimentos que marcam o início deste 2009, quando recrudesce a batalha política que se iniciou na nossa pátria há dois séculos: uns, a maioria de nós, querem a Independência Nacional; outros, a minoria, querem converter novamente a Venezuela numa colónia, num país subimperial, numa subrepública.

Não há outra via para concretizar a Independência venezuelana que não seja o da Revolução Nacional.

Não há outra via para a grandeza Pátria que esta, já empreendida, do socialismo; o nosso socialismo bolivariano: A Democracia Socialista!

A outra via, pela qual nos querem levar os colonialistas pequenoyanquis, condenaria o nosso país à menos-valia, à pequenez e ao sepulcro histórico; é a via do capitalismo e da sua expressão política: “a democracia burguesa”.

Nós, os Independentistas, carregamos um juramento; aquele efectuado pelo nosso líder, Simón Bolívar, no Monte Sacro a 15 de Agosto de 1805. Nós, os Patriotas, temos um projecto, portamos uma bandeira…

Eles, os colonialistas, não têm juramento, não têm projecto, não têm bandeira. Ou melhor, como temos testemunhado em diversas actividades dos pequenoyanquis, a sua bandeira revertida, volteada, de sete estrelas e não de oito como foi a do mandato do nosso Bolívar em Angostura, diz tudo: representam o que é contrário à pátria, são a contrabandeira, são a contravenezuela, são o contrabolívar. São a negação. São a não-pátria.

E quero expressá-lo nas minhas linhas, sobretudo agora, quando estamos já em plena campanha rumo ao referendo de 15 de Fevereiro.

Fevereiro, outra vez Fevereiro!! Sinto há anos que a minha vida está poderosamente ligada a este mês, dos candelabros sabaneiros e as brisas de Verão: 27 de Fevereiro, 4 de Fevereiro, 2 de Fevereiro!

E agora: 15 de Fevereiro.

Vinte anos depois de “El Caracazo” que me engendrou, dezassete anos depois da Rebelião Militar Bolivariana que me pariu e dez anos depois da tomada de posição que aqui me trouxe, coloco novamente a minha vida e todo o meu futuro nas mãos do povo e da sua soberana decisão. Este soldado revolucionário fará o que o povo mande.

Se a maioria dizer Não, então partirei noutro Fevereiro, o de 2013.

Por outro lado, se a maioria de vós, venezuelanos e venezuelanas, apoia a emenda com o SIM, então é possível que eu possa continuar à frente do timão para além de 2013.

Mas na verdade isso não é o mais importante.

Aqui e agora, o essencial é que, se ganhar o Não, impor-se-á a colónia, a contrapátria.

E se ganhar o SIM, impor-se-á a Pátria, a Independência.

Por isso, repito-lhes, homens e mulheres, juventude venezuelana:

Os que queiram a pátria, venham comigo!

Os que vierem comigo, terão Pátria!

Hugo Rafael Chávez Frias
22 de Janeiro de 2009